Há 15 anos, morria Kurt Cobain, vocalista, líder e fundador da banda norte-americana Nirvana. A versão oficial diz que ele se suicidou com um tiro na cabeça após ingerir uma dose absurda de heroína. Seu corpo foi encontrado apenas alguns dias depois. A quantidade da droga era tanta que teorias conspiratórias pipocaram aos montes após a morte do cantor. A mais conhecida – imortalizada no filme Kurt and Courtney (1998) diz que sua esposa, Courtney Love, teria mandado matá-lo.
Mas o que podemos refletir, agora com um pouco mais de afastamento, sobre o que representou de fato Cobain e o Nirvana na curta história do rock?
Kurt é talvez a última estrela do rock na concepção “tradicional” do termo. Ele viveu rápido, morreu jovem, deixou uma obra relevante – cujos discos entram em qualquer lista decente de melhores álbuns do século – e conta com inclusive com teorias conspiratórias no melhor estilo Elvis e Jim Morrison (Será que ele estaria numa ilha paradisíaca jogando xadrez com os dois?).
Duas questões que sempre permearam sua vida e carreira foram o sucesso e a mídia. De acordo com a biografia Heavier than Heaven (2001), Cobain foi um loser, um fracassado total durante a adolescência: teve problemas familiares, não se dava bem nos estudos, vivia de bicos e de drogas. Era o geek, o estranho o bizarro, o rejeitado pelas mulheres, pela sociedade. A música foi a forma que encontrou para expressar suas ansiedades e conseguiu através dela chegar ao sucesso. Pelo menos é isso que foi gerado a partir do mito Kurt Cobain.
A banda começou tocando no circuito underground, mas rapidamente alcançando proporções inesperadas, tornando-se o maior grupo pop do mundo no inicio dos anos 90 ao desbancar Guns N´Roses e Michael Jackson. Entrava aí um conflito clássico do rock: pop x underground. “Ele se vendeu”, apontavam alguns fãs antigos.
Kurt , no entanto, sempre sonhou com o sucesso. Parece, diferente do que dizia em entrevistas, que ele o queria, o almejava, mas talvez sua idealização nada tinha haver com a forma devastadora como a mídia trata seus ídolos: primeiro joga-se ao patamar mais alto, para depois tirar-lhes tudo. Talvez ele não soubesse que seria um prisioneiro da mídia e do modismo. Ele chegou a dizer, em várias ocasiões, que os novos fãs não o entendiam, os fãs conquistados com o segundo álbum da banda, Nevermind (1991). Foi esse disco que os consagrou, mas também foi ele que se tornou o paradoxo do qual Cobain buscou fugir posteriormente. Chegou a dizer algumas vezes que seu sonho era apenas ser um guitarrista escondido no fundo do palco e não o frontman da maior banda do planeta. Verdade ou mentira? A contradição era talvez sua característica mais marcante. De acordo com a biografia sobre o cantor, desde jovem ele ensaiava entrevistas e desde sempre elaborava a criação de seu próprio mito. E, talvez (mais uma vez) foi por isso que morreu; era preciso morrer para que o mito vivesse.
Do ponto de vista comercial deu certo. Ele é hoje uma das celebridades mortas que mais rendem no mundo. Ele também não teve tempo de estragar sua discografia com discos duvidosos como diversas bandas fizeram.
Ele manteve a imagem rebelde e jovem, que é a combinação perfeita da iconografia e do elixir da juventude da cultura rock n´roll. E talvez tenha sido o último da lista que inclui Brian Jones, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Sid Vicious e Jim Morrison, mas será que foi melhor queimar de uma vez do que apagar aos poucos? Ou seria melhor ele ter abandonado tudo e virado um novo Johnny Cash – se apresentando solitário com um violão – como tantas vezes disse que faria?